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HISTÓRIA

GANDU, POR UM GANDUENSE

Palavras Iniciais

No ano de 2008, o município de Gandu completou cinquenta anos de emancipação política. Naquela ocasião, recordou-se o desligamento político do município de Ituberá,  a quem  Gandu pertencia;  mas, enquanto povoação e comunidade de fé, desde os primeiros habitantes desta terra que nasceu  das fazendas de cacau,  já acontecia,  entre seus moradores, relações econômicas, sociais, políticas e religiosas.
Continuando este ciclo de celebrações, uma das instituições religiosas deste município  comemorou, no ano de 2009, cinquenta anos de fundação, enquanto “instituição oficial” – trata-se da Paróquia São José – que,  na organização da Igreja Católica Apostólica Romana, pertence à Diocese de Ilhéus.  A fé vivida por um povo vai para além das instituições religiosas. Acreditamos e incentivamos a vivência da fé, na perspectiva da comunidade, mas quando uma “Igreja chega”  num lugar, na verdade, Deus já está no “meio do povo” e com seu jeito simples, sobretudo na prática da religiosidade popular, o povo vai alimentando sua fé através das devoções, rezas, benditos, festas dos santos, etc. 
Portanto, o ano de 2009 marcou,  para esta comunidade paroquial, o seu ano jubilar. Enquanto comunidade, precisamos destes acontecimentos e fatos para  animar, avaliar e projetar o futuro, porém,  se olharmos como história de fé, esta vai para além destes cinqüenta anos. Este jubileu, foi uma oportunidade de assim rezar : “Deus seja louvado, por tanta gente que testemunhou e testemunha o seu amor e sua bondade, fazendo desta terra “um lugar onde presenciamos os sinais do Reino”, através de tantas pessoas que  anunciavam (e anunciam), testemunhavam e continuam dando seu  testemunho do amor de Deus entre as pessoas.
Nos arquivos da Diocese de Ilhéus, encontramos o registro da criação desta paróquia, contudo  a prática religiosa do povo ultrapassa datas e instituições.
A história,  enquanto ciência, existe  para nos ajudar a registrar os fatos, guardar a memória e ter presente a dinamicidade que traz em si um acontecimento. Conforme a visão de mundo de cada pessoa, a história é contada de formas diferentes. Às vezes, ela legitima os opressores, às vezes, lembra só dos nomes de pessoas ligadas ao poder econômico, etc. Falar dos cinqüenta anos de uma paróquia, não se pode deixar de lembrar fatos e construções, mas ela vai muito além das pessoas que possamos mencionar. Na verdade, é um “movimento”. Um grande historiador, chamado Eduardo Hoornaert, escreveu um livro chamado “O movimento de Jesus” – achei genial o título. É isso mesmo, na verdade por trás de cada nome está um “movimento”, um grupo de pessoas. Em alguns fatos, uns nomes são mais lembrados, outros não são mencionados, mas, no trabalho comunitário, todos são importantes: tanto aquele que “emprestou’ seu nome para o registro histórico, quanto aquele que também atuou, mas ficou mais no anonimato.
Numa cidade de interior, uma Paróquia é uma referência para muitas atividades.  Não se pode negar a contribuição desta, enquanto “instituição”, para um município. Isso, enquanto organização eclesial e social, contribuição intelectual, moral, política, etc. A missão principal de uma paróquia é o anúncio da Boa Notícia – é evangelizar. Uma paróquia  não abarca a dimensão de fé de um povo. Fé é maior do que a religião, como o Reino é maior do que a Igreja. Quanta gente  não atingimos com nossa evangelização, e são pessoas que na sua simplicidade, guardam o “tesouro da fé”?
Do ponto de vista sociológico, aprendemos que a religião, como produção cultural de um povo, pode ser ópio ou legitimadora de uma situação de opressão, como pode também ser instrumento de libertação e de defesa das causas populares. Qualquer religião que assuma a dimensão de defesa da vida, está, na verdade, cumprindo o desejo  Divino. Na história da Salvação, Deus sempre se mostrou como defensor da vida e da Libertação.
Entendemos  que numa cidade de interior, assumir uma postura profética, sempre foi um desafio,   pela proximidade  com os poderes constituídos, pela amizade, pelo medo, pela dependência que se cria com pessoas e repartições públicas. Por outro lado, não se pode calar nem ocultar a injustiça, mesmo que isso signifique perseguição e boicotes. Diz a sagrada escritura: “se calarem a voz dos profetas as pedras gritarão”...
Quando Gandu completou 50 anos,  planejei escrever uma crônica recordando alguns fatos que acompanhei desta história. O tempo passou e não foi possível concretizar este desejo. Aproveitei, portanto, esse momento kairótico, da Paróquia São José, por ocasião dos 50 anos de sua constituição, para esta simples partilha. É uma memória sobre  –          
Gandu, escrita por um ganduense...


Neste contexto, um ano após a emancipação política de Gandu (1958), Dom Eduardo cria a paróquia São José. Por paróquia não entendemos a “Igreja Matriz”. Quando o povo católico se reuniu para celebrar os 50 anos de criação da paróquia,  lembrou de toda extensão territorial que está sob sua responsabilidade pastoral. Paróquia engloba as comunidades urbanas e rurais. Aí, entra a história de muitos municípios que hoje são paróquias, mas que nasceram também deste “útero comum”: Nova Ibiá, Itamari, Wenceslau Guimarães, Teolândia, Apuarema, Piraí do Norte, etc., todas foram um dia alimentadas pelo mesmo fio umbilical. A festa, portanto, é deles também. 
Quando  foi emancipada e a paróquia constituída, a cidade tinha um formato rural. Tudo muito difícil. A energia elétrica vinha do município de Ituberá, da pequena hidrelétrica de Pancada Grande. Depois, com a decadência desta hidrelétrica, ela recebeu geradores movidos a óleo, que em dias alternados, num determinado horário da noite, eram desligados. Poucas ruas calçadas, um comércio tímido, a feira livre, um precário sistema de saúde, com praticamente um pequeno posto que oferecia atendimento médico através do Dr. Mário Chaves Tourinho, muito conhecido da comunidade – uma espécie de “médico da família”, figura ímpar na cidade. O povo o chamava de “Dr. Tourinho”- ele era um homem simples, popular, gostava de tomar suas “biritas”, um homem muito humano e “irreverente”.
Já existia o prédio do hospital municipal, mas este ficou fechado por longos anos. Poucas escolas, poucos professores. Os moradores levavam uma vida simples, pacata, uma relação de compadrio, onde todos se conheciam. A vida na cidade era como se fosse uma “grande família”. O município tinha uma “característica rural”, que perdura até hoje.  Durante o ano, esperava-se pelos momentos de festa, entre elas: São José, São Roque, Coroação de Nossa Senhora, Santo Antonio,  a chegada do Parque Ouro Verde, os circos que encantavam o sonho de todos...
Por fazer parte da região cacaueira, a cidade era marcada pelo “cheiro do cacau”, fruto que engordava uma minoria, sob o preço do trabalho nem sempre bem remunerado,  de mulheres e de crianças que eram exploradas nas grandes fazendas. Essa realidade foi muito bem trabalhada na literatura de Jorge Amado que soube mergulhar no significado político-econômico-cultural da lavoura do cacau. 
Como em toda região cacaueira, Gandu, a partir da década de 60 até os anos 80, era rodeada por grandes depósitos e armazéns que negociavam a compra e venda das amêndoas do cacau, no auge do “fruto do ouro”. Muitas dessas fazendas chegavam a ser bem próximas à cidade. Na verdade, a fazenda do “Seu Calheira”, do “Seu Maneca, (entre outras) eram dentro da própria cidade.  Com o passar do tempo, vão sendo desapropriadas e surgindo grandes bairros que hoje estão no centurão da cidade.  Por muitos anos, a cidade tinha um acesso difícil. O município de Ituberá, era separado por uma estrada de barro vermelho, muito sinuosa com suas intermináveis curvas. A dificuldade era a mesma para chegar à Valença, Jequié ou Itabuna/Ilhéus.  Esta realidade foi modificada em 1975, com a inauguração da BR 101. 
Foi neste contexto de cidade provinciana, com resquícios dos “coronéis do cacau” oriundos das famílias ligadas à lavoura e de gente simples e pobre,      que entram em cena, em 1964, os Missionários Saletinos.
A diocese de Ilhéus, nesta década, tinha uma área geográfica imensa: poucos padres, estradas horríveis, alguns lugares totalmente ilhados. Porém, um grupo de padres saletinos do sul do Brasil, tomando conhecimento desta região, se deslocam para Santo Antonio de Jesus na esperança de assumir uma  missão na diocese de Amargosa. Na época, com a indefinição por parte da Diocese de Amargosa, os padres saletinos encontram o Bispo de Ilhéus que os convida para assumir algumas paróquias na região do baixo sul do Estado. Começam, inicialmente, em Valença, mas a missão se extende por Taperoá, Nilo Peçanha, Ituberá até quando,  em 1966,  chegam a Gandu. Tinha eu,  à  época, seis anos de idade. Fui então crescendo, estudando e acompanhando esta história. Tomar a iniciativa de escrever esta memória, é reviver uma história, como se fosse o “filme da vida” -  recordando pessoas, espaços, ruas, casas, festas... Todos registrados na memória dos 18 anos que ali vivi.
Nasci em 1960 e fiquei em Gandu até janeiro de 1979, quando também resolvi ser Missionário Saletino, voltando apenas no período das férias. Desde minha saída,  já se passaram muitos anos que estou fora do município. Muita coisa mudou, muita gente nova;  por isso,  não ouso escrever tanto sobre as  últimas décadas, embora,  de longe, tenho acompanhando os acontecimentos e a história daqueles e daquelas que fizeram parte deste município. 
Assim, como o Reino de Deus é maior do que a Igreja, que Paróquia é maior do que Igreja Matriz, missão é maior do que ser pároco. Este é a  figura canônica necessária para o encaminhamento jurídico junto à diocese e a sociedade civil. Mas, a missão é assumida por muita gente – outros padres, leigos e leigas, religiosas, secretárias, colaboradores, voluntários, etc.
Na história de Gandu,  se faz necessário lembrar que,  a partir da missão assumida pelos Missionários Saletinos, chega à cidade,  em 1966, Padre Gineto Antonio Colpo, chamado pelo povo como “Pe. Antonio” – tinha 30  anos de idade e 01 de ordenado. Com a chegada do Padre Antonio, a paróquia de Gandu assume o “espírito missionário” – pois,  ao assumir Gandu, vinha de “presente” – Ibiá, Itamari, Wenceslau Guimarães, Teolândia, Piraí do Norte, etc., sem contar que algumas comunidades  foram atendidas para além destas cidades. Somando a extensão destes municípios, dava uma área de mais de 6 mil km2. Padre Antonio foi esse homem “desbravador”, recém ordenado, cheio de muita “força” foi abrindo caminhos e conquistando o coração do povo. Depois dele, muitos outros missionários foram assumindo a evangelização na paróquia: Pe. José Nuzzo, Pe. Claudino, Pe. Alfredo, Pe. Josival, Pe. João Holek, Pe. Cristovam, Pe. Guttemberg e Pe. Davi.
A Igreja Matriz, na sua arquitetura original, tinha uma escada de três patamares e uma porta lateral para aqueles/as que não conseguiam subi-la. Ao lado, uma pequena casa de poucos cômodos que abrigou, por anos, os padres que foram chegando, até quando, mais tarde, vai ser construída a casa paroquial. A “velha matriz”, com suas imagens espalhadas pelas laterais, tinha na frente dois altares – um com a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro e outro do Coração de Jesus. No centro, ficava imagem de São José e, numa pequena sacristia, o “Senhor Morto”, guardado com tanto mistério e que nos deixava com “medo” e na expectativa da procissão da Sexta feira santa. Na torre central, três sinos, repicavam.  De casa, ouvíamos o seu som e,  conforme a batida, decifrávamos o código: chamando para missa, avisando os falecimentos,  meio-dia, 18 horas... para cada momento um som diferente... Era um meio de comunicação juntamente com a “Voz da Cidade” com seus  alto falantes. A “rádio”  funcionava numa pequena sala do prédio do cinema, e dava os avisos, notícias e divulgava as músicas no tempo do LP de vinil...

Bem próximo à Igreja matriz, ficava o Colégio São José – com apenas três salas; funcionava nos dois turnos, sob a coordenação da professora Nice Baiardi. Esse colégio servia também de base para as celebrações da Primeira Comunhão – que era dia de festa para todos nós. Nos primeiros anos da criação da Paróquia, Ana Mello e Dona Meire organizavam os pequenos grupos que iriam fazer a 1ª Eucaristia. Com o passar do tempo, o trabalho desenvolvido pelos saletinos na região foi gerando resultado: a catequese foi se firmando e aumentando o número de catequistas e evangelizadores, sobretudo numa missão que foi ganhando espaço na paróquia, chamado “trabalho de base” –  na verdade,  era a evangelização nos bairros e zona rural, na dinâmica das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Com a chegada do Padre José Nuzzo, missionário Saletino vindo da Itália, a catequese ganha também novo ardor, e ele mesmo chega a preparar um grupo do qual fiz parte. Fui catequisado e fiz a primeira comunhão com padre José, que também incentivou, criou um grupo de “coroinhas” para o serviço do altar e mandou buscar na Itália as roupas (brancas, com duas listas vermelhas na frente); na época,  muito moderna. Vestir aquela roupa e servir o altar era uma alegria e festa para todo o grupo. E assim a história foi acontecendo. Os Missionários saletinos passaram por um momento de dificuldade, fruto do contexto eclesial da década de 60. O sonho de enviar um grande número de religiosos Saletinos para região é interrompido por falta de padres. Por essa razão, a equipe que aqui chegou acaba permanecendo por muitos anos numa mesma cidade, princípio esse, que não faz parte do estilo da vida religiosa, nem da orientação do Direito Canônico. Só depois de alguns anos, quando volta a ordenar novos padres, começa-se a haver o remanejamento na equipe dos padres que chegaram à Bahia e assim a Paróquia de Gandu, confiada aos Missionários Saletinos, começa também a receber outros padres. 
Comemorar 50 anos de um município e de uma Paróquia é muito mais do que falar nomes de pessoas, que, na sua simplicidade, vão ocupando os bancos das Igrejas ou assumindo os serviços da evangelização. Por outro lado, por força do reconhecimento ou do significado que tiveram, existe a necessidade de recordar  pessoas que “emprestaram” seus nomes no contexto de uma história coletiva. Contudo, por trás de todo nome está  um grande número de pessoas, que hoje denominamos equipe de pastoral, de evangelizadores, de lideranças. Não podemos omitir o testemunho dessas pessoas. Existe uma vertente na história que  registra apenas nomes de líderes políticos e religiosos que marcaram acontecimentos importantes de um povo, mas, na nossa visão,  todos têm igual valor, os “Josés e as Marias”, aqueles e aquelas que no cotidiano fazem acontecer as ações mais elementares de uma instituição.
Nos 50 anos da criação da Paróquia São José, nossos aplausos e nossa reverência a todos e todas que ao longo dessas cinco décadas foram construindo o projeto de evangelização da comunidade católica. Na linguagem televisiva, vamos “tirar o chapéu” para aqueles que,  na extensão territorial,  atingiram a paróquia, até o seu quadro atual, e que foram atuando como catequistas, evangelizadores, coordenadores de grupos e movimentos, organizando construções dos espaços comunitários.
Permitam-me recordar a contribuição que muitas pessoas foram dando na história desta paróquia. Comecei a acompanhar, a partir do Pe. Antonio. De sua prática, sou testemunha do quanto ele soube respeitar e valorizar todas as iniciativas que iam surgindo. Trouxe sua contribuição como missionário vindo do sul do Brasil, mas respeitando a cultura nordestina. Sendo gaúcho, se fez baiano. Não desvalorizava o que aqui encontrou, nem dizia que veio “trazer Deus”, mas, com seu jeito peculiar de ser, procurava mostrar a presença de Deus no nosso meio. Foi  avançando e inovando no que foi preciso, promovendo cursos e encontros, todos no contexto eclesial da época. Dedicou-se à educação, assumindo por muitos anos o Colégio Castro Alves, na época, o único colégio de 2º grau da região.
Por ocasião deste cinqüentenário, como ganduense e saletino, agradeço a Deus pela parte da minha “vida vivida” nestas ruas e na simplicidade do que era esta pequena cidade do interior.
Olhando os serviços que hoje todo cidadão e cidadã tem direito (água, saneamento, energia elétrica, educação, etc), tudo isso veio a passos lentos e a “conta gotas”, muita gente sentia na pele  todas as dificuldades para a chegada desses direitos, muitos destes serviços controlados pela política conservadora que sempre caracterizou a cidade.

Celebrar 50 anos de criação da paróquia é dizer  muito obrigado a Deus por todos os padres que por aqui passaram, abençoando, reconciliando, consagrando o pão e o vinho, pregando e educando, caminhando pelo centro, pelos bairros e zona rural

Celebrar 50 anos de criação da paróquia é dizer muito obrigado a Deus por todas as religiosas que passaram por aqui, muitas delas convidadas a realizar cursos, preparar agentes de Pastoral, acompanhar a Pastoral Vocacional, acompanhar as pastorais específicas. Lembro-me da Irmã Trindade, religiosa que tanto contribuiu na Pastoral da Criança desta região;  agradecemos também a Deus a presença das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora do Amparo, que tiveram a coragem de abrir a comunidade nesta cidade, para mostrar com sua presença o rosto feminino de Deus.

Celebrar 50 anos de criação da paróquia é lembrar de leigos e leigas que  acolheram, em suas casas e em seu coração, os padres, irmãs e seminaristas, ao longo destes anos. Agradecer a missão assumida pelos leigos e leigas e trazer presente alguns que já voltaram pra casa do Pai,  mas  deixaram entre nós a eterna lembrança da bondade e da ternura de Deus... Dona Maria de João Mecânico (Tia Maria) que,  todos os dias estava ali a cantar e encantar nossas celebrações, dona Dulce e dona Ceres, poços de ternura e bondade;  dona Perinha,  por longos anos a responsável pela coroação de Nossa Senhora;  dona Vitória com a devoção a São Roque;  seu Etelvino e dona Magnólia, com a devoção a Santo Antonio;  dona Ana Moreira na animação do Apostolado da Oração; Alírio na formação dos jovens e nos círculos bíblicos, dona Zuléia no trabalho da Pastoral da Criança; Seu Basílio – o nosso velho Simeão... estas pessoas e tantas e tantas outras,  são exemplos da bondade de Deus encarnada na história humana.
Neste jubileu, todos estão de parabéns – é um aniversário coletivo e comunitário. Parabéns à Diocese de Ilhéus pela amizade e pela confiança que sempre demonstrou à missão saletina. Parabéns a todos os padres e religiosas e a todo povo de Deus.
Celebrar este jubileu será  uma grande oportunidade de:
Reconhecer nossos limites:Ter a atitude do cobrador de impostos que rezava sabendo da sua limitação (Lc. 18,9-14), e, como Jesus, ser misericordioso (unir o coração à miséria alheia).
Festejar: é evidente que um jubileu é também festa com tudo que se tem direito: celebrações, cantos e símbolos.
Rezar: neste tempo jubilar, é-nos oportuno rezar o Pai Nosso, contemplando cada verso, cada frase, cada palavra, cada pausa. 
Que possamos rezar forte:  “livrai-nos do mal”. O mal...
De dedicarmos nosso tempo a uma Igreja que está distante dos pobres, dos excluídos;
De investir mais nos instrumentos para a evangelização (movimentos e mesmo pastorais específicas) e menos no “lugar da experiência” do Ressuscitado; não considerando que a Igreja é primeiramente (e assim o foi cronologicamente) comunidade;
De sermos pastores que já não se importam se o lobo devora as ovelhas e que usa o cajado somente para bater e maltratar o rebanho; seria mais interessante bater no lobo;
De sermos pessoas sem espiritualidade, secas, frias, azedas, tristes e sem tempo;
De uma missão centrada no padre, negando o batismo e o conseqüente sacerdócio comum.
Mas rezemos também: “Venha a nós o vosso Reino”. Reino...
de Samaritanos e Samaritanas: daqueles que sabem socorrer, parar, acolher, repartir o que tem, levantar os caídos e, se necessário, pagar a conta;
da Solidariedade, daqueles que incentivam a vivência da partilha, que reconhecem que a economia neo-liberal do mercado, da mundialização, da modernização é também da morte dos pobres;
da pura alegria de viver, da beleza do ser, da ternura no olhar, do toque, do querer bem ao seu corpo e ao corpo do outro, da harmonia com o cosmos;
da opção política, sem neutralidade, com clareza e decisão, empunhando as bandeiras populares das minorias oprimidas: mas com responsabilidade, com integridade, com liberdade e sagacidade;
dos diferentes no jeito de ser, no modo de amar,  mas iguais nos sonhos, na utopia e na necessidade de acreditar num Tempo Novo;

dos Sinais tão escondidos, às vezes até mesmo difíceis de discernir, de encontrar; que desponta, já experimentado, que tem sabor, cheiro, cor... materializado, mas que também está por vir, sempre.

Uno-me aos meus irmãos saletinos e a toda comunidade paroquial,  rogando a São José, “homem justo”, homem dos sonhos e das utopias, que interceda a Deus por todos nós, para que Gandu continue sendo uma PARÓQUIA EM MISSÃO. Segundo a Bíblia, o elemento central da vocação é a missão. Quando Deus chama alguém, chama-o para uma missão, para fazer alguma coisa em função de uma pessoa ou de uma comunidade. A missão é sempre um encargo. Ninguém escolhe uma missão, sempre a recebe de Deus. E, muitas vezes, para ser fiel a Deus e cumprir com fidelidade a missão, a pessoa precisa renunciar aos seus gostos pessoais.

Roguemos a São Jorge, santo lutador que esmaga o dragão e padroeiro da Diocese de Ilhéus, que interceda a Deus por nós e nos ajude a fazer deste jubileu uma  oportunidade de firmar os passos na missão  e ver onde podemos avançar ainda mais. De levantarmos questionamentos: Nossa paróquia é uma comunidade de discípulos e evangelizadores? Há algo que se pode melhorar na qualidade da nossa missão? Quais os ministérios que precisamos reforçar? Como nos integrar ainda mais na caminhada da CNBB, no Regional Nordeste 3, da Diocese de Ilhéus, do Zonal?

Que esse jubileu ajude a avançar na missão evangelizadora e tornar Jesus de Nazaré mais conhecido e amado. Que este encontro com Ele seja tão forte, que possamos segui-lo como tantos fizeram.

Que a Santíssima Trindade, melhor comunidade, nos ajude a viver a nossa fé.


Pe.Edegard Silva Júnior
Missionário Saletino 


Um comentário:

  1. Parabéns Pe. Edegard, e que Nossa Senhora da Salette continue a interceder por nós Ganduenses.

    Genivaldo

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